Ideia de taxar carros a gasolina penaliza duas vezes o consumidor, diz economista
Taxa prevista pode ser uma correção à falta de manutenção dos programas de incentivo ao uso combustível alternativo
O anúncio de que o governo federal analisa a criação de uma taxa extra para carros movidos a gasolina causa estranheza a motoristas em meio a um cenário de alta do combustível. A informação foi publicada nesta segunda no jornal Zero Hora. Se a iniciativa for aprovada, o motorista que não pode abastecer com álcool será penalizado duas vezes: pelo preço na bomba e na hora da compra do veículo. A opinião é do professor de Economia da Pontifícia Universidade Católica do RS (PUC-RS), Alfredo Meneghetti Neto.
Neto atribui o aumento do preço da gasolina ao próprio governo federal e à falta de continuidade de seus programas de incentivo. "Primeiro, o governo lançou ideias de utilização alternativa de combustível, ou seja, de álcool. Com isso, o Brasil virou case no mundo inteiro, com incentivos fiscais e favorecimento da indústria. Mas o governo não sustentou o programa, e o abastecimento continuou sendo (feito) com gasolina (por causa da vantagem de preço/consumo por litro). A nova medida é uma correção que deveria ter sido feita de outra forma, não sobretaxando automóveis a gasolina", explica.
O professor explica: primeiro, esses programas incentivaram a venda de carros a álcool e, mais tarde, com a maior produção de bicombustíveis, os veículos flex assumiram a liderança do mercado. Depois, há um cenário em que o preço do álcool combustível está estimulado, com o efeito da entressafra da cana e a alta do valor da commodity açúcar no mercado internacional - influenciado, até mesmo, pelo terremoto no Japão.
Por esses fatores, dentro da lei de oferta e procura, os usineiros diminuíram a produção de etanol, influenciando o valor final da gasolina - cuja mistura com álcool combustível é obrigatória.
"O próprio culpado é o governo, que não seguiu incentivando o Pró-Álcool lançado há 20 anos. Aliás, esse é um problema no Brasil, que não mantém os seus programas adequadamente", comenta o professor. Os maiores penalizados com as alterações são os motoristas que têm carros com mais de 10 anos, época em que ainda não eram produzidos os motores flex.
Sendo os carros importados, em sua maioria, movidos a gasolina, a nova taxa também significaria um desestímulo à importação e comercialização desses modelos - impactando na concorrência do mercado de modelos zero quilômetro.
Uma alternativa para isso seria o Brasil permitir o uso de diesel em veículos de passeio, hoje proibidos por lei. "O diesel é utilizado em transportes e veículos pesados, como camionetes. Esse combustível tem subsídio do governo e, se fosse incentivada essa alternativa, o Brasil voltaria a ser exemplo de alternativa de combustível", diz Meneghetti Neto. A introdução do diesel nesse mercado favoreceria a comercialização, com o aumento da concorrência e consequente queda de preços da gasolina, por exemplo.